quarta-feira, 3 de abril de 2013

Visitante



Cruzo o portão de aço da sacada
Um som divino me conduz ao teu recinto
O cheiro férreo me embriaga os sentidos

Conhecido

Ah! Ouço queimar entre o som metálico
O ressoar suave do teu peito
Dou mais um passo
O odor se impregna
És tu a escultura alva que pinta os lençóis de seda?
Serias tu a me chamar tão cedo?
Espreito sob a vela fúnebre do teu berço
É bela e triste a tua figura
Tuas formas brancas, ainda vigorosas
O rubro das maçãs escorrendo pelos dedos
Olhos orvalhados cintilando sob a prata etérea
Um engodo aos olhos
Meu olhar faminto corre pelas margens do teu leito
Espero pelo suspiro que vem a tragar-te o peito
Então tu me olhas
O prata a queimar as orbes cerúleas
Sorve o ar ao teu redor, mas não absorve
Sorrio
Te toco a face, ainda, enrubescida, quase indecorosa
Dos olhos febris vem o choque
Mas não eras tu a me chamar, sem pronunciar um nome?
Abro o sorriso em esgar e antes do pedido
beijo tua boca com fome de amante
Teus braços me envolvem, fracamente
Do mel que goteja dos dentes sugo ávida
O néctar que tu mesma deste à mercê
Um último espasmo e tua luz se apaga
A massa maculada escorre até embater na velha cama
Deixo o quarto lambendo os beiços, satisfeita.