Encontro no asfalto
Na rua cravejada de latas vazias, com ladrilhos pontilhados por milhares de passadas sucedeu o ocorrido. Ele vinha da Praça Dom Feliciano, a pasta em mãos, enquanto desviava dos obstáculos andantes que também corriam contra o relógio. Ela, saindo da Galeria Mauá e de uma longa entrevista, tentava se equilibrar na calçada esburacada com os saltos gastos, transpirando debaixo do calor infernal. Não se conhecem, ambos são da mesma cidade, passam frequentemente pelos mesmos lugares, pelos mesmos rostos, compartilham de gostos e desgostos, mas tem vidas singulares. Sofrem pela greve dos bancos, pelas trocas de temperatura cada vez mais frequentes, pela falta de apreço da humanidade e pela ausência de um acalento no final do dia.
É na hora de atravessar a rua que a mágica acontece.
Os dois corpos se chocam na passagem do ônibus e, no descuido, o asfalto vira salão de dança com as buzinas orquestrando a sinfonia. Foi um quê de surpresa no quase abraço. As mãos dele ainda pousaram nas costas dela procurando equilíbrio, nos pés que se esbarraram, descompassados, sem completar o caminho. As mãos dela o seguram pelos ombros, apenas por um segundo. O tempo de um suspiro. Não se olham. Segue-se a rota, no compasso marcado, cada um no seu caminho. Presos na rotina apertada mal dá espaço para aproveitar a brisa fresca do terminal, imagina o calor humano.
Ow, cute *-* Isto tem continuação ou foi apenas ideia esporádica? ^^
ResponderExcluirUm daqueles momentos únicos no centro de Porto Alegre. Só um lampejo de reflexão do dia a dia. :)
ExcluirPasseio no centro sempre rende... E não é triste!!! hehe Sempre com um toque de Dessa, mesmo que sucinto.
ResponderExcluirDeixei a Dessa com o menor violino do mundo e abri outras janelas. Quem sabe.. posso escrever um romance açucarado em breve!
Excluir(...no)
Perfect Strangers.
ResponderExcluirAnti-climático esse final, hein, mas super real.
ResponderExcluirNem sempre temos os finais que queremos, talvez a falha esteja no caminho que escolhemos.
ExcluirTÃO cidade grande, asfalto, cheiro de escapamento, calor nauseante e pressa *_* TÃO dia-a-dia.
ResponderExcluirAmei dessa, essa tua capacidade de ver numa situação possivel, real e rotineira uma cena incrível e desenvolvê-la num nivel singular é simplesmente fantástica.
Como a Gabriela comentou, só faltou um "Hello Stranger" e seria o começo de uma longa história, que a torto ou a direito nós sempre evitamos pq estamos muito focados em nosso proprio egocentrismo descarado.
Ótimo retrato da sociedade atual. <3
Beijos, loirão!
É um vislumbre desse dia a dia caótico que vamos nos permitindo viver. É cotidiano na nuvem de fumaça, cintilando garrafas vazias que refletem pessoas se esvaziando também. O ser humano quer companhia, mas não procura cativar.
Excluir"A pressa é inimiga da perfeição"